Verbum Fidei

'É verdade que há uma relação entre as palavras testemunha e testículos?

No latim havia duas palavras homônimas testis, ambas masculinas. Uma designava a testemunha; outra, o testículo; esta segunda surgia quase sempre no plural sob a forma testes.

A palavra testiculu -, nos dicionários de latim Gaffiot, Hachette e da Porto Editora, por exemplo, é apresentada como diminutivo do segundo verbete de testis, indicado como testis2, ou seja, diminutivo de testículo… Mas também devia ser usada para designar testemunha, pois só assim se explica que a palavra principal para referir testemunha no castelhano seja testigo, palavra que, aliás, José Pedro Machado, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, também indica para o português (embora pareça contestável que a sua origem seja castelhana, pois ela tem exactamente a mesma evolução que artigo, a partir de articulu. Pode muito bem ter evoluído a partir do latim e depois ter caído em desuso…).

No português moderno verificou-se um fenómeno de divergência entre as palavras: para designar testemunha criou-se uma palavra feminina a partir do neutro testimoniu, e o diminutivo testiculu deu origem a testículo por via erudita (quem diria?). Os espanhóis, por seu lado, aproveitaram a palavra que evoluiu por via popular – testigo – para indicar a testemunha e, tal como nós, usam a que nos chegou por via erudita para referir testículo. As línguas têm destas coisas. Por isso são tão apaixonantes!

Quanto ao facto de testigos também designar testículos em castelhano, José Pedro Machado diz o mesmo para testemunhas no português, apresentando esta interpretação como popular!...

As palavras testículo e testemunha têm, afinal, uma origem próxima: testis1 – testemunha; testis2 – testículo.'

Vamos entender:


O nervo ciático é o maior nervo do corpo humano, tendo o diâmetro aproximado de um dedo. 

O versículo em questão (Gênesis 24.2):

וַיָּשֶׂם הָעֶבֶד אֶת-יָדוֹ תַּחַת יֶרֶךְ אַבְרָהָם אֲדֹנָיו

"E seu servo colocou a mão sob a coxa ( ierer') de Abraão (seu) senhor."

A palavra coxa יֶרֶךְ

também traduzida para extremo, extremidade ou parte posterior. É o mesmo radical usado em Gênesis 32.33 quando Jacó, lutando com um anjo, teve o nervo de sua coxa (ierer') deslocado.

No caso desse último, o nervo deslocado ("guid ha-nashe") trata-se do ciático, o maior da extremidade inferior, descendo pela parte anterior da perna. 

Colocar a mão sob a coxa era uma forma usada para juramento (ver também em Gênesis 47.29, onde Jacó, velho e perto de morrer, pede para José fazê-lo). De acordo com o idioma bíblico as crianças saíam da "coxa" do pai ( Gênesis 46:26 "que emanaram da sua coxa"; Êxodo 1.5 ("almas que emanaram da coxa de Jacó "; Juízes 8:30) daí o termo "coxa" seria um eufemismo para o órgão procriador. Portanto, quem fazia o juramento teria que colocar a mão na virilha ou nas regiões próximas aos genitais do homem com quem ele fazia aliança.

Em algumas circunstâncias a virilidade do homem também era colocada em questão nesse juramento, por esta ser muito considerada no mundo antigo. Homens com muitos filhos eram considerados viris e em alguns casos isso era até mais importante que ter riquezas.

Pela questão cultural, as mulheres estéreis ficavam apavoradas por não poder provar a virilidade de seus maridos, tanto que foi um alívio para Sara quando Abraão teve um filho da escrava egípcia Hagar.

Assim, a região da"coxa" de acordo com a tradição talmúdica, passou a ser o sinal sagrado da aliança, e o servo tinha que colocar a sua mão próximo a ela assim como em tempos posteriores uma promessa seria feita sobre um rolo de Torá (Shevuot38b; Targum Yonatan;Rashi).

Na luta contra o Anjo de D'us, com o seu nervo lesionado Jacó pode na verdade ter recebido uma benção por causa das referências na Torah do número de "almas que emanaram de sua coxa",

(Gênesis 46.26 e Êxodo 1.5).

Bibliografia:

www.vertebrata.com.br/nov_17.php

A Torá Viva; anotado por Rabino Aryeh Kaplan; Ed. Maayanot, 2ª ed.,2003.

Dicionário Português Hebraico e Hebraico Português - Abraham Hatzamri e Shoshana More-Hatzamri - ed. Sêfer